sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Um poema perturbador



No caminho, com Maiakóvski (fragmento)

[...]
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem;
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
[...]

(Eduardo Alves da Costa, poeta fluminense)


Conheci este exato fragmento poético nas rodas de amigos e simpatizantes no meu tempo saudoso de aluno avoado de História/UFAL, nos corredores do CHLA (atual ICHCA). Pensei, como todo mundo numa época de pouca Internet, que fosse de autoria do poeta russo. Mas como podem ver, não é. Explicações detalhadas aqui.

Relembrando o poema, refleti um pouco sobre a palavra povo. Nas mais variadas acepções permanece o sentido de unidade coletiva. Esse nós virtual, imaginado, que materialmente não existe, ou pelo menos não faz jus ao dicionário.

Digo isso porque o eu (unidade, a parte) deveria se sentir parte do nós (conjunto, o todo), já que é povo. Onde está nossa empatia de ver o outro? Além de mudos, cegos?

A voz do povo é uma voz silenciada no Brasil, em Alagoas, na Zona da Mata, aqui. Sem poder gritar, o povo é facilmente enganado, roubado, mortificado. Não são poucas as pessoas que vendem seu voto, que se entregam por favores, "viram a casaca", ou seja, cedem à pressão daqueles que não são povo (ou povão, como queiram); causando dissensão no conjunto. O todo se quebra, vira pó, e bem sabemos o destino do pó após uma faxina.

Este poema me perturba, e muito, toda vez que o releio. Mas pelo menos me deixa mais lúcido. 

José Minervino Neto

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Para ler a íntegra do poema, clique aqui.

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