segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Imagem e semelhança de quem?

A liberdade religiosa, assim como a de expressão, é um dos direitos inalienáveis do cidadão brasileiro ou estrangeiro nesta pátria mãe gentil. Poderíamos aproveitar esse argumento, respaldado na Constituição, para reverberar a visão romântica de que somos um país harmônico em meio a tanta miscigenação racial e cultural, mas de modo algum isso pode ser dito sem reservas.

A quantidade de pessoas que odeiam e hostilizam a religião do outro é enorme, e só cresce. Que o diga os adeptos das religiões de matriz africanas, constantemente associadas ao satanismo. Deixamos claro que isso não é um problema filosófico da teoria de tais credos, pois, por exemplo, no Cristianismo a maior admoestação de seu fundador vai justamente no sentido contrário de tudo o que presenciamos em nosso tempo. Nem mesmo os radicais islâmicos possuem tal princípio que legitime o ódio gratuito. Aliás, religião nenhuma induz à desarmonia entre os homens. 

Mas parece que as pessoas ainda vivem na Idade Média... Se antes eram os protestantes que lutavam pela liberdade de professar suas crenças livremente, hoje são os herdeiros de tais doutrinas que tentam cercear a liberdade alheia. Situação paradoxal. O que nossos irmãos protestantes fariam se possuíssem armas de fogo tal como os talibãs? Reflitam, é ou não é o mesmo sentimento?

Sou agnóstico. Fico cismado sempre que alguém, principalmente se for conhecido dos meus tempos de cristão, pergunta "como estou com Deus". Ora (pro nobis), "não estou". Pronto, é motivo para um sermão, que nunca escuto por já conhecer os argumentos bíblicos e, na maioria das vezes, estar a caminho de compromissos mais urgentes.

Neste domingo, 30 de outubro, às vésperas do dia do Protestantismo, o Professor Reinaldo Sousa, diretor do Campus da UNEAL em União dos Palmares-AL,  foi vítima de uma investida fundamentalista por simplesmente cumprir seu papel de gestor de uma instituição pública, portanto laica, regida por leis federais. E só para não me delongar neste aspecto jurídico, nenhuma lei municipal ou estadual tem efeito superior a uma lei federal. A polêmica diz respeito às faltas não abonadas dos alunos adventistas do 7° dia às sextas-feiras à noite, que se dizem amparados por lei municipal e estadual. Como expõe o professor no blog NEPEM, este é um direito inconstitucional. A reclamação dos alunos chegou à Gazeta de Alagoas, jornal de maior circulação no estado, e foi ressonada insanamente no blog do "jornalista" Ivan Nunes, A Palavra.

Basta ler as palavras de Ivan Nunes, especialmente nos comentários, para perceber que aquele paraíso brasileiro da liberdade religiosa está distante, muito distante de ser uma realidade. 

Não vou adentrar mais nesta polêmica. Digo apenas que conheço Reinaldo Sousa há tempo suficiente para afirmar sua integridade moral, profissional e humana. Só lamento que um caso de intolerância e ignorância (das leis e outras cositas más) tenha acontecido tão perto de mim e não no Oriente Médio onde isso já é rotina (mas não deveria, registre-se). Lamento ter de conviver com pessoas que não respeitam os limites do outro em todos os sentidos, não só religioso. Mas o mundo não é meu nem está ao meu bem-querer. Por isso, meus pais me ensinaram a respeitar a todos.

Lamento, enfim, vir da boca dos cristãos as maiores baforadas de dragão. Imagem e semelhança de quem mesmo? Em nome de qual SENHOR falam: o de 1 Samuel 15, versos 1-3, ou o de Mateus 22, verso 39?

2011 d. C., o mundo ainda sobrevive...

José Minervino Neto
Ex-católico, ex-protestante adventista do 7° dia, ex-cristão. 
Agnóstico, democrático, reverente.

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Um lindo sermão do pastor Martin Luther King Jr., grande ativista norte-americano pelo direito de igualdade, que foi morto justamente por defender tal causa, está disponível aqui. Apreciem, irmãos!

Um comentário:

Cadu disse...

Que alívio ao ler isto. Valeu, Minervino.