domingo, 13 de novembro de 2011

O mundo, Raimundo

Sinto-me cada dia mais solitário neste vasto mundo, Raimundo. Para onde foram as pessoas de bem? Acho que estão escondidas para não serem confundidas com seres de outro mundo. Às vezes, absorto num espírito de coletividade, eu pensava que a maioria das pessoas ficava horrorizada com cenas de violência, corrupção etc. Mas, não, uma quantidade significativa apoia ações truculentas da polícia e continua votando em políticos corruptos, em parlamentares-latifundiários que criam leis anti-trabalhistas etc. etc.

É, não vai bem o mundo, Raimundo.

José Lins do Rego era escritor e Flamengo doente, tão doente do coração que seu médico o proibiu de ver aos jogos do Mengão, de tanta emoção que as partidas de futebol lhe proporcionavam. O meu médico do SUS um dia vai me proibir de acompanhar o noticiário e mais ainda, determinará que eu não veja/leia os comentários reacionários e desumanos da população "democrática" que usa a Internet para os piores intentos. 

Meu coração não aguenta tanta "emoção", Raimundo.

Por que somos hoje pessoas tão ruins, Raimundo? Tudo bem não simpatizar com a causa dos estudantes da USP. Maconheiro, quando não é filho ou parente próximo, está sempre errado mesmo, né?. Mas apoiar ou incentivar que a Polícia Militar "desça o cacete" em jovens indefesos contra bombas de gás e balas de borracha, mesmo que o apoio seja via Facebook de algum lugar perdido no Nordeste ("Até tu, Brutus?") é muito estranho, para não dizer desolador. Ninguém quer ao menos escutar as ideias propostas pelos uspianos e nem é necessário, porque a televisão, dona da verdade, não mostra, e não mostra certamente porque é desnecessário. E a Internet só serve agora para que as pessoas exponham "democraticamente"  seus preconceitos e banalidades, até universitário entra nessa onda. Entendeu? 

No meu tempo, as pessoas saíam melhores da Universidade do que entravam, Raimundo.

Em Tropa de Elite 1, Raimundo, o Brasil aplaudiu a truculência policial e lemas como "bandido bom é bandido morto", traduzindo, bandidinho que está na base da cadeia alimentar do crime tem de ser morto, quem está no topo, o bandidão, lucrando com o tráfico e a corrupção, não. Quer dizer que o problema da violência é do favelado que mal sabe empunhar um fuzil comprado das mãos de um... policial! (que remete o lucro ao seu superior, e este ao seu superior ad infinitum).

Ainda bem que José Padilha e Wagner Moura se redimiram em Tropa de Elite 2, Raimundo.

Que mundo, hein, Raimundo? Sei que você é só uma rima, Raimundo, sei também que este textículo é uma prosa sem muita rima, sem nenhuma solução pro mundo, Raimundo. Mas eu continuo tentando ser gauche na vida.

José Minervino Neto

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