segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Sobre o documentário Waiting For Superman

O documentário americano Waiting For Superman ("Esperando pelo Super-Homem"), dirigido por Davis Guggenheim, aborda um tema muito angustiante: a degradação das escolas públicas. O filme segue a tendência dos últimos anos de mostrar as mazelas do maior império capitalista do mundo, cujo declínio do sistema educacional, que já foi o melhor até os anos 1970, revela aspectos outrora maquiados pela propaganda do american way of life.

Abandono governamental, professores mal remunerados, violência, desemprego, sindicatos de professores aliados e financiadores de partidos políticos, regras confusas, burocracia... aspectos muito semelhantes aos que vemos acontecer aqui no Brasil são apontados como as causas dessa decadência educacional. Destaque para o "contrato" entre os sindicatos e o Estado que garante a "estabilidade" dos professores, sejam eles bons, ruins, péssimos ou mais que isso. Segundo o filme, como os benefícios são iguais independente do desempenho dos alunos, muitos professores se dão ao luxo de, por exemplo, ler jornal quando deveriam lecionar e mesmo que sejam denunciados a cláusula de estabilidade praticamente impossibilita a demissão deles. Resultado: ao final de cada ano acontece uma espécie de rodízio de maus professores pelas escolas.


Nos EUA, assim como no Brasil, as melhores escolas públicas são poucas e, consequentemente, oferecem poucas vagas. Para manter o mínimo de igualdade, tais instituições promovem um deprimente sorteio como forma de ingresso que, segundo o documentário, define quem terá no futuro as maiores chances de adentrar numa universidade, ter uma vida melhor etc.

Em geral, traçar um paralelo entre Brasil e EUA nesse aspecto é tentador, resguardadas as especificidades históricas de cada país, nunca faltou dinheiro para ser investido em educação pública, mas, sim, vontade política. Hoje na terra do Tio Sam é preciso "importar" mão-de-obra de países emergentes, como a Índia. Algo impensável para o país onde surgiu a Microsoft, a Apple, a Nasa etc. etc. Sobre a situação brasileira nem é preciso comentar, né? O país de mentes brilhantes hoje não é mais um padrão de sucesso educacional. Devemos olhar para a Finlândia neste caso, ou para a Coréia do Sul.

A última reflexão que faço vem em tom romântico, por isso extremamente necessária. No documentário são mostrados exemplos de professores que lutaram contra essa lógica maquiavélica implantada nas escolas públicas norte-americanas. Sujeitos comuns, mas com formação acadêmica, que com erros e acertos conseguiram mudar a vida de muitos de seus alunos socialmente marginalizados. Eles recriaram o ambiente escolar, fundaram escolas em vários lugares disseminando a ideia de que é possível conquistar e transformar a realidade a partir de uma educação pública comprometida com a vida daqueles sujeitos desacreditados.

Não precisa ser um Super-Homem ou uma Mulher Maravilha, basta que o mestre cumpra seu papel com dedicação, amor e compromisso.

Vocês já repararam como um mundo ficou grande depois de aprenderem a ler?

José Minervino Neto

________________________________
Em tempo, indico a leitura do texto O relaxamento do povo e a inércia do governo, do professor Nivaldo Marinho, que me instigou a terminar esta postagem guardada há uns dias.
A charge foi fisgada aqui.

Nenhum comentário: